Por Oliver Simões, revisão e contribuição do ChatGPT
Antes de me sentar para escrever este artigo, cogitei em outros títulos que pudessem causar algum impacto. Pensei em “A idiotização da língua brasileira: Prenúncio de uma distopia civilizatória?” e coisas do tipo.
Não, você não leu errado. Estou usando “língua brasileira” intencionalmente. Muitos portugueses dizem que no Brasil já não falamos português, falamos brasileiro. No início, achava que fosse uma espécie de arrogância colonial dos portugueses, mas hoje estou começando a entender por quê. Parece-me que entre as línguas românicas, somos o único povo que vai EM (e não A) algum lugar. Em minhas andanças pelos Estados Unidos e o México, notei que, independentemente do nível social ou educacional do falante, a regência verbal permaneceu inalterada ao longo dos séculos: em inglês “you go TO a place” e em espanhol “tú vas A algún lugar”. Em francês, o uso da preposição depende do país de destino; portanto os franceses dizem “aller AU Brésil” mas “aller EN France”. Pensando melhor: o romeno, devido à influência de línguas eslavas, usa ÎN, mas essa parece ser uma característica geral do romeno. Por conta da influência de outros idiomas, é o que menos se assemelha ao latim.
Minha vizinha, uma senhora com mais de 80 anos, fala português de dar inveja a qualquer intelectual brasileiro. E, diga-se de passagem, ela não tem nível universitário. Deve ter lá o ensino médio completo: Deu-me…, disse-me… não o vi etc.” são algumas das construções que ouvi em conversas informais com ela. Detalhe curioso: ela é dos Açores. Enquanto isso, nas Terras Brasilis (e na diáspora brasileira) ouvimos preciosidades como vi ela… tu vai… tu foi… etc. sem falar na praga do gerundismo: “vou estar te encaminhando” e por aí afora.
Outro dia quase causei uma revolta popular ao comentar que “o brasileiro não conhece nem o próprio idioma”. Tudo começou quando fiz uma crítica ao nome de um restaurante local chamado “Churrasco de Brasil”. (O grifo é meu.) A minha franqueza chocou algumas pessoas no grupo de WhatsApp. “Francamente, que brasileiro diria churrasco de Brasil?,” perguntei aos integrantes do grupo. Não tardou muito, alguém rapidinho encontrou uma explicação, dizendo que se tratava de uma “licença poética”. Alguém tentou até me dar uma aula de literatura, o que provou ser inútil porque já estudei literatura de vários países: Brasil, Portugal, Inglaterra e Estados Unidos, e, cá entre nós, é uma das minhas matérias favoritas. Sinceramente, nunca vi o conceito de licença poética ser usado para justificar uma aberração gramatical da língua portuguesa. A impressão que fica é a de que quem inventou esse nome não sabe português. Falei com uma amiga brasileira e descobri que nossas opiniões coincidiam. Francamente, um nome ruim até como estratégia de marketing! O maior espanto veio quando me disseram que os donos do restaurante eram brasileiros, e fui acusado de estar “ofendendo” essas pessoas, que não conheço e nem sabia que faziam parte do grupo. “Uma pena, porque os americanos sabem muito pouco sobre o Brasil, e o pouco que estão aprendendo está gramaticalmente incorreto,” pontuei. Alguém me perguntou de onde sou. Quando disse que sou de São Paulo, fui acusado de “elitismo linguístico” (sic). Longe de querer defender a variante paulista, que está muito aquém da norma culta, digo sem falsa modéstia ou medo de errar: conheço a minha gramática (sou tradutor e ex-professor de português) e não posso ser responsabilizado por lacunas no domínio da língua. De qualquer forma, encerrei com a elegância que o momento exigia: “vocês são muito chatos” e saí do grupo.
Esse episódio ilustra um fenômeno maior, que transcende a língua e se reflete na estrutura cultural e política dos tempos modernos. Departamento da Educação desmantelado, censura acadêmica e do discurso, estupidezes sendo proferidas por homens nascidos em berços de ouro que querem nada menos que uma sociedade ignorante e vazia porque assim é mais fácil o controle das massas e a manutenção dos seus privilégios. Mas continuemos no tema das aberrações linguísticas antes que me acusem de “politicamente incorreto”.
Outro exemplo da distopia linguística em voga é a expressão “cura quântica vibracional”. Palavras como “quântico” e “vibracional” são recicladas em contextos completamente alheios à física, emprestando um verniz de legitimidade científica a práticas esotéricas que nada têm de ciência. O resultado é uma linguagem inflacionada, repleta de termos sofisticados que, embora vazios de significado técnico, funcionam como gatilhos emocionais no marketing do bem-estar. Trata-se da mercantilização da linguagem: cura, espiritualidade e ciência se fundem numa mistura indigesta, criada sob medida para atrair consumidores ávidos por soluções mágicas em tempos de crise existencial. O problema maior nem é a busca por bem-estar, mas a maneira como a língua vai sendo corrompida para vender ilusões embaladas em pseudoconhecimento.
Ultimamente, tenho me deparado com uma quantidade enorme de bizarrices no Instagram: desde gente que se identifica com animais (os chamados Therians), passando por pessoas com o rosto totalmente desfigurado de piercings (uma com a língua cortada ao meio e outra que relinchava a pedido da repórter), até — pasmem! — “mães” de bonecas de silicone! Sem brincadeira. O que é mais bizarro? O apego afetivo a essas bonecas a ponto de banhá-las, levá-las ao médico etc. ou as pessoas que criticam essas “mães” impostoras, mas continuam chamando um pedaço de borracha de “bebê”? Sem falar na distopia linguística no uso de um anglicismo que tem tradução em português. Quando li que estão em vias de aprovar o “Dia da Cegonha Reborn” no Brasil, ou o “Dia da Cegonha Renascida” em bom português, não acreditei e fui pesquisar no Google. É fato, diz uma matéria no Globo.
O que a cura quântica vibracional, as bonecas e cegonhas renascidas, e os humanos bestas (ou bestas humanas?) têm em comum? A distopia. A falta de senso comum e o desapego da realidade. No plano da linguagem, essa distopia se traduz no abandono deliberado do pensamento crítico, das bases empíricas e das raízes históricas que sustentam a língua, como se a tradição linguística fosse um fardo a ser descartado. Perde-se o vínculo com o passado, esvazia-se o sentido, e a comunicação torna-se um simulacro: repetição de formas sem substância. A invasão de estrangeirismos se insere nesse contexto de descarte linguístico-cultural. Será isso o prenúncio do que está por vir, com o avanço da inteligência artificial e o que o futuro nos reserva? Uma “humanidade” constituída de seres híbridos, meio homens, meio máquinas? Que criam suas próprias leis e regras de forma arbitrária?
Em tempos de algoritmos que moldam comportamentos e de inteligências artificiais que já “escrevem” melhor do que muitos humanos, a linguagem — ferramenta que deveria nos elevar — parece ter se tornado mero reflexo de uma civilização à deriva. Se não conseguimos mais nomear corretamente o que vemos, sentimos ou comemos, como poderemos resistir ao apagamento da realidade?
A possibilidade de perdermos o controle para a inteligência artificial é real — quem o diz é o ganhador do Nobel de Física de 2024, John Hopfield. Resta torcer para que as novas criaturas sejam menos distópicas do que certas figuras que já circulam entre nós.
PS: Este texto foi revisado por inteligência artificial; os dois últimos parágrafos foram escritos integralmente pelo ChatGPT com pouquíssimo input do autor.