Sabem, normalmente me chamam de índio…

Moi Guiquita, transcrito e traduzido do espanhol por Oliver Simões.

líder huaorani Alícia Cahuiya
Líder huaorani Alícia Cahuiya. Por Martín Huamán/Archivo Centro Takiwasi, CC BY-SA 4.0.

Sabem, normalmente me chamam de índio, indígena ou originário.
E, embora essas palavras soem muito grandes, me parecem muito pequenas — porque querem enfiar séculos de história dentro de uma única definição.
Como se eu tivesse nascido de uma categoria, e não de um ventre, de um rio ou de uma comunidade.

Então, o que realmente significa tudo isso?
Ou melhor: quem decide como devo me chamar?
Por que tenho que me encaixar em um rótulo para poder existir?

Não sou minoria, não sou folclore, não sou uma palavra para preencher documentos ou discursos bonitos.

Meu nome é Moi, que em minha língua materna quer dizer “sonho”.
Falo wao terero, a língua do povo huaorani — e huaorani significa “pessoas que caminham”.

Isso quer dizer que, antes de nos darem um rótulo, antes de tentarem nos nomear de fora, nós já éramos caminho, já éramos movimento, história, memória viva.

Em minha família, os nomes não vêm da moda nem dos documentos.
Vêm da floresta, do rio, do trovão; alguns têm o nome de uma árvore, outros de uma onça, outros nascem dos sonhos dos espíritos.

Na minha casa, ninguém me pergunta: “como você se identifica?”
Nos reconhecemos apenas com um olhar.
Nos nomeamos com amor — não com rótulos.

Não precisamos de rótulos para existir.
Somos humanos.
Antes de indígenas, originários, ou seja lá o que for, somos vida.

O mais humano é nos nomear a partir do amor — não a partir das diferenças, não a partir da categoria.

Moi Guiquita da Região Étnica Huaorani, Equador

Porque eu não venho de um termo.
Venho de uma linhagem, de uma história.

E, embora eu respeite quem sinta orgulho dessas palavras, prefiro que me chamem pelo meu nome — porque não represento um grupo minoritário.
Represento a vida que caminha, que respira, que sonha…

E você?
Quem é você quando ninguém lhe põe um rótulo?
Que nome você carrega quando caminha em silêncio?

O mais humano é nos reconhecer sem a necessidade de nos definir —
porque não somos conceitos.
Somos histórias que continuam caminhando…

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